quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Sobre (as minhas) Perda Gestacional e a Saudade do Que Não Vivi

O mês de outubro é  o mês da conscientização sobre a perda gestacional. Quero aproveitar que estou parada no Aeroporto em uma escala de uma viagem especial, para escrever um texto que venho adiando há muito tempo. Preciso falar sobre as minhas perdas.
Essa viagem era especial, porque foi planejada entre tantos outros motivos (passar uns dias sozinha, um tempo pra mim, fazendo o que gosto, dormir, comer, tomar longos banhos, sem interrupções, sem rotinas...) principalmente para completar nosso enxoval.
SIM tínhamos um TERCEIRINHO no forno, eu estaria com vinte e poucas semanas de gestação. Estavamos um pouco assustados, mas MUITO felizes, nossa família estava completa. Fizemos muitos planos: com quem o bebê vai ficar, as crianças vão para a escola, cabem 3 cadeirinhas no carro......
Então há pouco mais de 2 meses, eu estava com nove semanas e fui fazer a primeira ultra. O resultado foi muito  estranho (começa aí a dificuldade que as pessoas tem em lidar com esse assunto, depois eu comento), não ouvi os batimentos cardíacos, apesar do laudo do exame atestar que ele existiam. Sem respostas e muito angustiada fui ao PS e no dia seguinte tive confirmado o diagnóstico. Meu embriãozinho, nosso terceirinho morreu. Chorei muito naquele dia, do mesmo jeito e na mesma intensidade que choro neste momento enquanto escrevo este texto. Fui internada no sábado para fazer uma curetagem. Um final de semana dolorido, seguido de dias de muita tristeza. Se estou bem? Sim. Mas meu coração ainda dói e meus olhos se enchem de lágrimas, cada vez que penso ou falo sobre o assunto.
Essa não foi nossa primeira perda, essa foi a minha quinta gestação, minha segunda curetagem. A perda gestacional é mais comum do que se imagina e familiares, amigos, o pai e a própria mãe não estão preparados para lidar com isso.
Mas apesar de ter sido minha terceira perda ela dói como a primeira. Mesmo sendo uma gestação de 9 semanas, de um terceirinho sem aviso. Perdi meu bebê, meu filho já sonhado, já encaixado na minha família, já amado demais por nós.
Ouve-se muita coisa nessa situação, sei que as pessoas não fazem por mal, mas ter que lidar com a nossa dor e ainda a incapacidade do outro frente a essa situação é muito cansativo.
Da primeira vez, já tínhamos espalhado a notícia aos quatro ventos e era muito difícil ter que contar, e contar e contar de novo o que tinha acontecido cada vez que alguém ficava sabendo. Às vezes me sentia na obrigação de consolar a pessoa que, estava super sem jeito de ter vindo perguntar do bebê e descobriu a perda. Nas minhas outras gestações esperamos pra contar. E devo assumir que a minha demora em escolher o nome dos meus filhos está muito ligada ao medo, que sempre esteve presente de perder novamente. Esse medo sempre me acompanhou, não consegui curtir minhas gestações como poderia, porque o medo me impediu.
Desta vez decidi curtir diferente das outras vezes, me entregar, acreditar, baixar a guarda. E doeu demais, dói e sei que mesmo que passem anos vai continuar doendo. 
Digo isso porque esse ano descobri que não importa quanto tempo passe eu nunca vou deixar de sentir. Quando perdi meu primeiro bebê, uma prima engravidou na mesma época, ver a bebê nos braços dela, trazia sempre a lembrança do bebê que eu não tinha. Anos depois, 2 filhos, em uma programação especial da minha família, aquela bebê, agora uma menininha, faz uma homenagem para a bisavó e sou invadida por um sentimento dolorido de saudade do que era pra eu viver, saudade daquele bebezinho que não tive o prazer de segurar.
Tudo isso pra dizer que a perda de um bebê com poucas semanas de gestação deve ser valorizada igualmente a uma perda gestacional tardia ou de um filho já nascido. Não acredito que se possa comparar a dor que se sente em nenhum desses casos, porque acredito que isso é muito pessoal. Só posso dizer: acredite ela é imensa, intensa, avassaladora. E vem acompanhada do medo de não ser capaz de gerar e gestar um bebê, de perder novamente, da necessidade de buscar respostas para perguntas (e estas muitas vezes não existem), entre tantos outros sentimentos que muitas vezes nem somos capazes de reconhecer.
Por isso se você é profissional da saúde e durante um exame percebe que há algum problema com um embrião, seja profissional, acolha a mãe, faça um diagnóstico ou pelo menos oriente ela a procurar o seu médico. Mas não a mande embora pra casa com um resultado de ultrassom duvidoso, dizendo que o embrião tem batimentos cardíacos, e o desespero de saber que tem algum problema com o seu bebê.
Se você é amigo ou da família lide com esse caso como um caso de luto, se houver um velório participe, se não, ofereça carinho, apoio e acolhimento de acordo com a necessidade desse casal. Evite falas como: "ele devia ter algum problema, foi melhor assim", ou "logo vocês encomendam outro" ou " agora as coisas que eu comprei, vou ter que dar pra outro bebê ".  Apenas ofereça carinho, valide a dor esteja presente.
Quanto ao casal, permita-se vivenciar o luto, chore pelo seu filho, fique triste o tempo necessário, se despeça, procure ajuda em grupo ou individual, viva seu luto em toda a sua intensidade. Com o passar do tempo vamos aprendendo a conviver com ele e continuamos vivendo.
Esse texto é um pouco de tudo que tenho pensado sobre perda gestacional, uma tentativa de conscientização, mas acima de tudo talvez ele seja apenas mais um passo no meu processo de luto.
Espero que de alguma maneira ele possa sensibilizar você sobre o assunto e te ajudar a ter um olhar diferente da próxima vez que se deparar com uma situação como essa.
Se você está vivendo o luto de uma perda gestacional saiba que você não está sozinha.
Depois da minha primeira perda iniciei um processo de terapia (demorei para reconhecer o quanto eu necessitava disto). Um dia no carro, ao voltar de um atendimento, ouvi uma música e uma frase dela fez todo o sentido para o que eu vivia naquele momento:
"Morro de saudade do que era pra viver,
Vivo da viagem de reencontrar você..."
É isso, essa saudade vive comigo e eu com ela, fortalecida na esperança que tenho, de que um dia receberei meus bebês em meus braços, por ocasião da volta de Jesus.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

De volta

Fiquei muito tempo longe do blog e durante esse período, vivi os anos mais plenos da minha vida. O Henrique nasceu e logo depois de completar um ano e começar a andar, fui agraciada com a surpresa de uma nova gestação. E dessa vez tivemos uma linda menininha, em um parto domiciliar inesquecível. 
Vivi as diferenças das duas gestações, as expectativas, o preparo para o novo bebê, as mudanças de paradigma.
Quis compartilhar aqui, mas me faltou organização pra tanto.
Agora quero, na medida do possível, retomar esse espaço.
Decidi começar com o relato do Parto da Gigi e depois ir falando de todos esses assuntos relacionados à gestação, parto, puerpério e criação de filhos, que me fazem brilhar os olhos.
Então vamos lá.