sábado, 20 de setembro de 2014

Relato de parto 4- O parto, o céu estrelado e muito amor

Depois que cheguei ao hospital perdi bastante a noçao de tempo,  sentia dor, as contrações estavam muito próximas e marcar o tempo perdeu o sentido.  Ao chegar ao centro cirúrgico fui encaminhada para um quarto pequeno, a enfermeira responsável pelo setor naquele momento me mandou deitar colocou o cardiotoco que naquele momento era muito incômodo,  minha barriga estava dolorida e ter que ficar deitada com aquela cinta apertada foi bem desagradável.  Foi feito novo exame de toque e estava com 5 cm de dilatação. Pedi para ir para o quarto Delivery (é como denominam nessa maternidade o quarto especial para parto normal, ele é grande, tem banheira e só nele a gestante pode passar o pré-parto e o parto no mesmo quarto,  esse quarto não pode ser reservado, se você chegar e ele estiver disponível é seu, a maternidade só tem dois desses quartos) ela disse que seria encaminhada pra lá a seguir pois o quarto estava disponível. Pedi água e ela disse que a partir daquele momento não podia ingerir nada. Começou a me fazer algumas perguntas e quando disse que sou alérgica a látex ela disse que eu não poderia usar o delivery pois não era um ambiente livre de látex. Expliquei que minha alergia é de pele e que tudo estava encaminhando bem para o parto normal, que eu não passaria por uma cesariana e que este cuidado demasiado não se justificava. Ela foi categórica dizendo que eu não poderia usar o delivery.  Naquele momento estava me sentindo sozinha, com muita dor, sendo mal assistida e incomodada por uma enfermeira sem a menor empatia pela minha situação.  Fiquei brava, disse que só estava naquela maternidade pela possibilidade de usar aquele quarto e que se ele estava vazio eu queria ir pra lá.  Ela então me fala de forma bastante ríspida: Não precisa ficar nervosa - me dá as costas e sai batendo a porta do quarto.
Isso me tirou do prumo e comecei a gritar vocalizar em alto e bom tom e pedindo a Deus pra marido ou alguém da equipe chegar logo, precisava me sentir acolhida pra poder me concentrar no meu parto.
Marido chegou no centro cirúrgico nessa hora e foi perguntar onde eu estava,  disse que ouviu um grito e me localizou rapidinho.... rsrs Quando ele chegou abracei ele e comecei a chorar, queria o quarto, queria a banheira, queria minha Equipe pra cuidar de mim. A doula Thais chegou em seguida e expliquei o que estava acontecendo.  Ela foi conversar com a equipe de enfermagem, ligaram para o médico e então liberaram o delivery,  mas antes tiraram a bola bobath (que retornou mais tarde) e ligaram o ar condicionado...aff.
Naquele momento eu só queria ir pra banheira, as contratações estavam ritmadas e muito doloridas, fiquei ali em pé abraçada ao marido esperando pra ser levada ao outro quarto. Durante toda a gestação ao ler relatos e ver vídeos de partos,  comecei a acalentar o desejo de ter meu parto na água.  Acreditava que ficaria mais relaxada e daria conta de um parto natural...
Finalmente liberaram o delivery. A banheira estava cheia e fui direto pra ela. Minha primeira sensação foi de completo relaxamento, o que durou uns 5 minutos,  as contratações então voltaram mais fortes e quase sem intervalos, comecei a sentir medo, nada havia me preparado para aquela dor, não conseguia respirar, não achava posição confortável, eu só conseguia pensar em uma coisa: ANESTESIA.
Peguei marido pela mão e implorei pela anestesia. Sentia vontade de empurrar, mas só conseguia pensar que eu não queria que meu bebê nascesse sem anestesia. Percebi que a Thais ligava pra enfermeira perguntando onde ela estava, e tentava ver se o bebê estava coroando, porque devido ao que eu sentia, parecia que eu estava no expulsivo, acho que ali estava indo pra Partolândia, não tenho nenhuma noção de tempo e ordem das coisas, só lembro que doeu. A Obstetriz Ju chegou e tentou me acalmar, eu só pedia anestesia.  Ela me relembrou que eu só poderia tomar anestesia quando o médico da equipe chegasse, para garantir que a anestesia seria aplicada corretamente. Me lembro dela me dizer que o médico estava chegando e eu "mal humorada" perguntar: -Chegando onde? Porque ele vai chegar, daí chamar o anestesista, depois até ele vir, eu não aguento!!!
Ela com muito carinho explicou que ele já estava no hospital e que o anestesista já tinha sido chamado e estava a postos. Nesse momento o médico chegou. Me tiraram da banheira, me secaram e fui para a cama. Me posicionaram e o anestesista já estava ali, lembro dele ser carinhoso comigo, quando foi fazer o acesso pediu pra me secarem novamente, porque eu estava muito suada por causa da dor. Pedi uma mão pra segurar e a Ju segurou minha mão, lembro naquela hora de falar pra ela: -Ju não posso apertar sua mão, ela é muito pequena, vou te machucar.  Ela sorriu e falou que eu podia apertar a vontade. Pouco depois da anestesia já me sentia outra pessoa.  O desespero passou, me centrei de novo. Dr Alberto fez o exame de toque e eu estava com 7cm.
Por conta da anestesia algumas coisas teriam que seguir de outra forma (intervenção gera intervenção), não poderia mais ter um parto na água, e precisaria ser constantemente monitorada com o cardiotoco. As contrações continuavam fortes e ritmadas e o Henrique estava bem. Me deixaram descansar por um tempo, liguei para meus pais e avisei outras pessoas sobre o andamento do parto, rimos, conversamos e então a equipe me colocou pra trabalhar pelo meu parto. Colocaram uma compressa de ervas quente nas costas para aliviar a lombar, a Thais me trouxe água  escondido da equipe do hospital e autorizada pelo meu médico. Nossa que água deliciosa, me lembro de durante o trabalho de parto sentir vontade de tomar uma garrafa de água gelada. Sobre a anestesia ela me livrou da dor , mas eu ainda conseguia me movimentar, sentia minhas pernas, percebia as  contrações.
Depois de um tempo e várias posições os batimentos cardíacos do bebê começaram a cair, a equipe pediu que eu mudasse de posição, em quatro apoios os batimentos voltavam ao normal. Ficamos assim durante um tempo, mas Henrique não descia. Dr Alberto então conversou conosco explicou que estava na hora de começar a empurrar e que talvez eu precisasse de ajuda, se eles poderiam fazer isso. Autorizei, fiquei durante algum tempo na banqueta de parto, a cada contração a equipe fazia uma manobra para ajudar o Henrique a nascer e eu mexia o corpo ajudando Henrique a descer, depois de um tempo os batimentos voltaram a cair, voltei para quatro apoios e tudo bem novamente.
Permaneci nessa posição me movimentando a cada contração para ajudar o Henrique a nascer. Não sei quanto tempo durou isso , mas lembro do médico e da obstetriz se revezarem na manobra para ajudar o Henrique. Então Dr Alberto propôs me colocar na posição obstétrica e ajudar o Henrique a nascer, aceitei. Nesse momento a dor havia voltado, o anestesista veio e deu mais uma dose.  Me ensinaram a fazer a força corretamente e a cada contração eu usava todas as minhas forças pra empurrar. Lembro de sentir muita pressão em baixo ventre, não sei por quanto tempo empurrei, só lembro de estar cansada.
E então a me perguntaram se eu queria ver a cabeça do Henrique, a Thais colocou o espelho, mas não consegui ver. Mais contrações e força e a cabecinha do Henrique saiu, Dr Alberto então disse: - Olha aqui o que estava dificultando as coisas, e puxou a mãozinha do Henrique e em seguida ele saiu inteirinho. A dor acabou. Ele veio direto para o meu colo, meu primeiro sentimento foi alívio, conseguimos, meu pequeno nasceu, e depois a melhor sensação da vida, ter meu pequenino tão sonhado no meu colo, marido muito emocionado ao lado curtindo junto.  Depois que o cordão parou de pulsar Dr Alberto perguntou ao marido se ele queria cortar, durante toda a gestação ele dizia que não faria isso, credo, mas ali naquela hora ele disse: - Claro depois de ver a força dela nesse processo todo, eu posso cortar o cordão!
A pediatra da equipe do hospital pediu então pra pegar o Henrique pra avaliar, deixei. Pesou,  mediu, embrulhou e ele foi para o colo do Pai. Durante esse tempo saiu a placenta, precisei de dois pontinhos, limparam a cama e me ajeitaram, então Henrique voltou pra mim e foi direto para o peito. A Thais então me trouxe muita água e me auxiliou nesse primeiro contato. A equipe do hospital foi deixando o quarto, e a equipe do Parto Sem Medo também foi saindo aos pouquinhos e ficamos ali, no quarto a meia luz, com teto estrelado, apenas nós três, nos conhecendo, nos curtindo, relembrando momentos daquele dia incrível, nos amando.  Agora sim éramos uma família, tínhamos nosso pequeno sonho no nosso colo e sentíamos tanto amor, de um jeito que não sabíamos ser possível. Foi intenso, foi indescritível, foi delicioso. 

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