quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Sobre (as minhas) Perda Gestacional e a Saudade do Que Não Vivi

O mês de outubro é  o mês da conscientização sobre a perda gestacional. Quero aproveitar que estou parada no Aeroporto em uma escala de uma viagem especial, para escrever um texto que venho adiando há muito tempo. Preciso falar sobre as minhas perdas.
Essa viagem era especial, porque foi planejada entre tantos outros motivos (passar uns dias sozinha, um tempo pra mim, fazendo o que gosto, dormir, comer, tomar longos banhos, sem interrupções, sem rotinas...) principalmente para completar nosso enxoval.
SIM tínhamos um TERCEIRINHO no forno, eu estaria com vinte e poucas semanas de gestação. Estavamos um pouco assustados, mas MUITO felizes, nossa família estava completa. Fizemos muitos planos: com quem o bebê vai ficar, as crianças vão para a escola, cabem 3 cadeirinhas no carro......
Então há pouco mais de 2 meses, eu estava com nove semanas e fui fazer a primeira ultra. O resultado foi muito  estranho (começa aí a dificuldade que as pessoas tem em lidar com esse assunto, depois eu comento), não ouvi os batimentos cardíacos, apesar do laudo do exame atestar que ele existiam. Sem respostas e muito angustiada fui ao PS e no dia seguinte tive confirmado o diagnóstico. Meu embriãozinho, nosso terceirinho morreu. Chorei muito naquele dia, do mesmo jeito e na mesma intensidade que choro neste momento enquanto escrevo este texto. Fui internada no sábado para fazer uma curetagem. Um final de semana dolorido, seguido de dias de muita tristeza. Se estou bem? Sim. Mas meu coração ainda dói e meus olhos se enchem de lágrimas, cada vez que penso ou falo sobre o assunto.
Essa não foi nossa primeira perda, essa foi a minha quinta gestação, minha segunda curetagem. A perda gestacional é mais comum do que se imagina e familiares, amigos, o pai e a própria mãe não estão preparados para lidar com isso.
Mas apesar de ter sido minha terceira perda ela dói como a primeira. Mesmo sendo uma gestação de 9 semanas, de um terceirinho sem aviso. Perdi meu bebê, meu filho já sonhado, já encaixado na minha família, já amado demais por nós.
Ouve-se muita coisa nessa situação, sei que as pessoas não fazem por mal, mas ter que lidar com a nossa dor e ainda a incapacidade do outro frente a essa situação é muito cansativo.
Da primeira vez, já tínhamos espalhado a notícia aos quatro ventos e era muito difícil ter que contar, e contar e contar de novo o que tinha acontecido cada vez que alguém ficava sabendo. Às vezes me sentia na obrigação de consolar a pessoa que, estava super sem jeito de ter vindo perguntar do bebê e descobriu a perda. Nas minhas outras gestações esperamos pra contar. E devo assumir que a minha demora em escolher o nome dos meus filhos está muito ligada ao medo, que sempre esteve presente de perder novamente. Esse medo sempre me acompanhou, não consegui curtir minhas gestações como poderia, porque o medo me impediu.
Desta vez decidi curtir diferente das outras vezes, me entregar, acreditar, baixar a guarda. E doeu demais, dói e sei que mesmo que passem anos vai continuar doendo. 
Digo isso porque esse ano descobri que não importa quanto tempo passe eu nunca vou deixar de sentir. Quando perdi meu primeiro bebê, uma prima engravidou na mesma época, ver a bebê nos braços dela, trazia sempre a lembrança do bebê que eu não tinha. Anos depois, 2 filhos, em uma programação especial da minha família, aquela bebê, agora uma menininha, faz uma homenagem para a bisavó e sou invadida por um sentimento dolorido de saudade do que era pra eu viver, saudade daquele bebezinho que não tive o prazer de segurar.
Tudo isso pra dizer que a perda de um bebê com poucas semanas de gestação deve ser valorizada igualmente a uma perda gestacional tardia ou de um filho já nascido. Não acredito que se possa comparar a dor que se sente em nenhum desses casos, porque acredito que isso é muito pessoal. Só posso dizer: acredite ela é imensa, intensa, avassaladora. E vem acompanhada do medo de não ser capaz de gerar e gestar um bebê, de perder novamente, da necessidade de buscar respostas para perguntas (e estas muitas vezes não existem), entre tantos outros sentimentos que muitas vezes nem somos capazes de reconhecer.
Por isso se você é profissional da saúde e durante um exame percebe que há algum problema com um embrião, seja profissional, acolha a mãe, faça um diagnóstico ou pelo menos oriente ela a procurar o seu médico. Mas não a mande embora pra casa com um resultado de ultrassom duvidoso, dizendo que o embrião tem batimentos cardíacos, e o desespero de saber que tem algum problema com o seu bebê.
Se você é amigo ou da família lide com esse caso como um caso de luto, se houver um velório participe, se não, ofereça carinho, apoio e acolhimento de acordo com a necessidade desse casal. Evite falas como: "ele devia ter algum problema, foi melhor assim", ou "logo vocês encomendam outro" ou " agora as coisas que eu comprei, vou ter que dar pra outro bebê ".  Apenas ofereça carinho, valide a dor esteja presente.
Quanto ao casal, permita-se vivenciar o luto, chore pelo seu filho, fique triste o tempo necessário, se despeça, procure ajuda em grupo ou individual, viva seu luto em toda a sua intensidade. Com o passar do tempo vamos aprendendo a conviver com ele e continuamos vivendo.
Esse texto é um pouco de tudo que tenho pensado sobre perda gestacional, uma tentativa de conscientização, mas acima de tudo talvez ele seja apenas mais um passo no meu processo de luto.
Espero que de alguma maneira ele possa sensibilizar você sobre o assunto e te ajudar a ter um olhar diferente da próxima vez que se deparar com uma situação como essa.
Se você está vivendo o luto de uma perda gestacional saiba que você não está sozinha.
Depois da minha primeira perda iniciei um processo de terapia (demorei para reconhecer o quanto eu necessitava disto). Um dia no carro, ao voltar de um atendimento, ouvi uma música e uma frase dela fez todo o sentido para o que eu vivia naquele momento:
"Morro de saudade do que era pra viver,
Vivo da viagem de reencontrar você..."
É isso, essa saudade vive comigo e eu com ela, fortalecida na esperança que tenho, de que um dia receberei meus bebês em meus braços, por ocasião da volta de Jesus.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

De volta

Fiquei muito tempo longe do blog e durante esse período, vivi os anos mais plenos da minha vida. O Henrique nasceu e logo depois de completar um ano e começar a andar, fui agraciada com a surpresa de uma nova gestação. E dessa vez tivemos uma linda menininha, em um parto domiciliar inesquecível. 
Vivi as diferenças das duas gestações, as expectativas, o preparo para o novo bebê, as mudanças de paradigma.
Quis compartilhar aqui, mas me faltou organização pra tanto.
Agora quero, na medida do possível, retomar esse espaço.
Decidi começar com o relato do Parto da Gigi e depois ir falando de todos esses assuntos relacionados à gestação, parto, puerpério e criação de filhos, que me fazem brilhar os olhos.
Então vamos lá.

sábado, 20 de setembro de 2014

Relato de parto 4- O parto, o céu estrelado e muito amor

Depois que cheguei ao hospital perdi bastante a noçao de tempo,  sentia dor, as contrações estavam muito próximas e marcar o tempo perdeu o sentido.  Ao chegar ao centro cirúrgico fui encaminhada para um quarto pequeno, a enfermeira responsável pelo setor naquele momento me mandou deitar colocou o cardiotoco que naquele momento era muito incômodo,  minha barriga estava dolorida e ter que ficar deitada com aquela cinta apertada foi bem desagradável.  Foi feito novo exame de toque e estava com 5 cm de dilatação. Pedi para ir para o quarto Delivery (é como denominam nessa maternidade o quarto especial para parto normal, ele é grande, tem banheira e só nele a gestante pode passar o pré-parto e o parto no mesmo quarto,  esse quarto não pode ser reservado, se você chegar e ele estiver disponível é seu, a maternidade só tem dois desses quartos) ela disse que seria encaminhada pra lá a seguir pois o quarto estava disponível. Pedi água e ela disse que a partir daquele momento não podia ingerir nada. Começou a me fazer algumas perguntas e quando disse que sou alérgica a látex ela disse que eu não poderia usar o delivery pois não era um ambiente livre de látex. Expliquei que minha alergia é de pele e que tudo estava encaminhando bem para o parto normal, que eu não passaria por uma cesariana e que este cuidado demasiado não se justificava. Ela foi categórica dizendo que eu não poderia usar o delivery.  Naquele momento estava me sentindo sozinha, com muita dor, sendo mal assistida e incomodada por uma enfermeira sem a menor empatia pela minha situação.  Fiquei brava, disse que só estava naquela maternidade pela possibilidade de usar aquele quarto e que se ele estava vazio eu queria ir pra lá.  Ela então me fala de forma bastante ríspida: Não precisa ficar nervosa - me dá as costas e sai batendo a porta do quarto.
Isso me tirou do prumo e comecei a gritar vocalizar em alto e bom tom e pedindo a Deus pra marido ou alguém da equipe chegar logo, precisava me sentir acolhida pra poder me concentrar no meu parto.
Marido chegou no centro cirúrgico nessa hora e foi perguntar onde eu estava,  disse que ouviu um grito e me localizou rapidinho.... rsrs Quando ele chegou abracei ele e comecei a chorar, queria o quarto, queria a banheira, queria minha Equipe pra cuidar de mim. A doula Thais chegou em seguida e expliquei o que estava acontecendo.  Ela foi conversar com a equipe de enfermagem, ligaram para o médico e então liberaram o delivery,  mas antes tiraram a bola bobath (que retornou mais tarde) e ligaram o ar condicionado...aff.
Naquele momento eu só queria ir pra banheira, as contratações estavam ritmadas e muito doloridas, fiquei ali em pé abraçada ao marido esperando pra ser levada ao outro quarto. Durante toda a gestação ao ler relatos e ver vídeos de partos,  comecei a acalentar o desejo de ter meu parto na água.  Acreditava que ficaria mais relaxada e daria conta de um parto natural...
Finalmente liberaram o delivery. A banheira estava cheia e fui direto pra ela. Minha primeira sensação foi de completo relaxamento, o que durou uns 5 minutos,  as contratações então voltaram mais fortes e quase sem intervalos, comecei a sentir medo, nada havia me preparado para aquela dor, não conseguia respirar, não achava posição confortável, eu só conseguia pensar em uma coisa: ANESTESIA.
Peguei marido pela mão e implorei pela anestesia. Sentia vontade de empurrar, mas só conseguia pensar que eu não queria que meu bebê nascesse sem anestesia. Percebi que a Thais ligava pra enfermeira perguntando onde ela estava, e tentava ver se o bebê estava coroando, porque devido ao que eu sentia, parecia que eu estava no expulsivo, acho que ali estava indo pra Partolândia, não tenho nenhuma noção de tempo e ordem das coisas, só lembro que doeu. A Obstetriz Ju chegou e tentou me acalmar, eu só pedia anestesia.  Ela me relembrou que eu só poderia tomar anestesia quando o médico da equipe chegasse, para garantir que a anestesia seria aplicada corretamente. Me lembro dela me dizer que o médico estava chegando e eu "mal humorada" perguntar: -Chegando onde? Porque ele vai chegar, daí chamar o anestesista, depois até ele vir, eu não aguento!!!
Ela com muito carinho explicou que ele já estava no hospital e que o anestesista já tinha sido chamado e estava a postos. Nesse momento o médico chegou. Me tiraram da banheira, me secaram e fui para a cama. Me posicionaram e o anestesista já estava ali, lembro dele ser carinhoso comigo, quando foi fazer o acesso pediu pra me secarem novamente, porque eu estava muito suada por causa da dor. Pedi uma mão pra segurar e a Ju segurou minha mão, lembro naquela hora de falar pra ela: -Ju não posso apertar sua mão, ela é muito pequena, vou te machucar.  Ela sorriu e falou que eu podia apertar a vontade. Pouco depois da anestesia já me sentia outra pessoa.  O desespero passou, me centrei de novo. Dr Alberto fez o exame de toque e eu estava com 7cm.
Por conta da anestesia algumas coisas teriam que seguir de outra forma (intervenção gera intervenção), não poderia mais ter um parto na água, e precisaria ser constantemente monitorada com o cardiotoco. As contrações continuavam fortes e ritmadas e o Henrique estava bem. Me deixaram descansar por um tempo, liguei para meus pais e avisei outras pessoas sobre o andamento do parto, rimos, conversamos e então a equipe me colocou pra trabalhar pelo meu parto. Colocaram uma compressa de ervas quente nas costas para aliviar a lombar, a Thais me trouxe água  escondido da equipe do hospital e autorizada pelo meu médico. Nossa que água deliciosa, me lembro de durante o trabalho de parto sentir vontade de tomar uma garrafa de água gelada. Sobre a anestesia ela me livrou da dor , mas eu ainda conseguia me movimentar, sentia minhas pernas, percebia as  contrações.
Depois de um tempo e várias posições os batimentos cardíacos do bebê começaram a cair, a equipe pediu que eu mudasse de posição, em quatro apoios os batimentos voltavam ao normal. Ficamos assim durante um tempo, mas Henrique não descia. Dr Alberto então conversou conosco explicou que estava na hora de começar a empurrar e que talvez eu precisasse de ajuda, se eles poderiam fazer isso. Autorizei, fiquei durante algum tempo na banqueta de parto, a cada contração a equipe fazia uma manobra para ajudar o Henrique a nascer e eu mexia o corpo ajudando Henrique a descer, depois de um tempo os batimentos voltaram a cair, voltei para quatro apoios e tudo bem novamente.
Permaneci nessa posição me movimentando a cada contração para ajudar o Henrique a nascer. Não sei quanto tempo durou isso , mas lembro do médico e da obstetriz se revezarem na manobra para ajudar o Henrique. Então Dr Alberto propôs me colocar na posição obstétrica e ajudar o Henrique a nascer, aceitei. Nesse momento a dor havia voltado, o anestesista veio e deu mais uma dose.  Me ensinaram a fazer a força corretamente e a cada contração eu usava todas as minhas forças pra empurrar. Lembro de sentir muita pressão em baixo ventre, não sei por quanto tempo empurrei, só lembro de estar cansada.
E então a me perguntaram se eu queria ver a cabeça do Henrique, a Thais colocou o espelho, mas não consegui ver. Mais contrações e força e a cabecinha do Henrique saiu, Dr Alberto então disse: - Olha aqui o que estava dificultando as coisas, e puxou a mãozinha do Henrique e em seguida ele saiu inteirinho. A dor acabou. Ele veio direto para o meu colo, meu primeiro sentimento foi alívio, conseguimos, meu pequeno nasceu, e depois a melhor sensação da vida, ter meu pequenino tão sonhado no meu colo, marido muito emocionado ao lado curtindo junto.  Depois que o cordão parou de pulsar Dr Alberto perguntou ao marido se ele queria cortar, durante toda a gestação ele dizia que não faria isso, credo, mas ali naquela hora ele disse: - Claro depois de ver a força dela nesse processo todo, eu posso cortar o cordão!
A pediatra da equipe do hospital pediu então pra pegar o Henrique pra avaliar, deixei. Pesou,  mediu, embrulhou e ele foi para o colo do Pai. Durante esse tempo saiu a placenta, precisei de dois pontinhos, limparam a cama e me ajeitaram, então Henrique voltou pra mim e foi direto para o peito. A Thais então me trouxe muita água e me auxiliou nesse primeiro contato. A equipe do hospital foi deixando o quarto, e a equipe do Parto Sem Medo também foi saindo aos pouquinhos e ficamos ali, no quarto a meia luz, com teto estrelado, apenas nós três, nos conhecendo, nos curtindo, relembrando momentos daquele dia incrível, nos amando.  Agora sim éramos uma família, tínhamos nosso pequeno sonho no nosso colo e sentíamos tanto amor, de um jeito que não sabíamos ser possível. Foi intenso, foi indescritível, foi delicioso. 

sábado, 6 de setembro de 2014

Saudade

E hoje faz um ano. Ainda dói muito,  faz muita falta. 
Uma amiga querida, parceira. Gostava de reunir todo mundo e recebia a todos muito bem, tanto que todo mundo se sentia super a vontade na casa dela. Falava o que pensava, se ficava brava falava logo, mas não ficava remoendo rancor. Sabia acolher sem julgar, podia falar qualquer coisa pra ela, discreta, sabia guardar segredo.  Tinha um coração enorme, sempre pronta a ajudar os amigos, sempre podíamos contar com ela e se desdobrava até altas horas se fosse necessário. Até outro dia tinha as mensagens do "zapzap" dela guardadas, gostava de reler e rir das coisas que ela dizia. Entendia minhas brincadeiras, me chamava de intriguenta e usava palavras e jargões do Paraná que era uma delícia ouvir. Topava todos os programas, as vezes até os que pra ela eram de índio (como andar longas distâncias na praia) porque gostava de estar com os amigos. Era divertida e alegre, minha melhor companhia em programas como 25 de março e CEASA muito cedo ( mesmo quando teve que acordar super cedo e voltar ao CEASA de onde tinha saído com outra amiga as 2 da madrugada). 
Desprendida valorizava as pessoas,  as amizades. Torceu pela minha gravidez e curtiu comigo a gestação do Henrique como uma irmã e o chá dele foi a última festa que fizemos juntas. Tínhamos muito em comum e éramos diferentes em muita coisa, talvez por isso tenha se tornado  uma grande amiga e em pouco tempo construímos uma amizade que já parecia de muitos anos. Passamos juntas os últimos natais e ano novo, o último na casa dela foi muito especial,  já estávamos programando o próximo.  Ela era parte da minha família.
Enquanto esteve internada ainda pude sentir o poder da oração, da esperança, das amizades, me emocionar com a solidariedade das pessoas e me aproximei mais de Deus por causa dela. Fiquei tão emocionada quando falei com ela por telefone que acabei não dizendo o que gostaria. Infelizmente a resposta de Deus não foi a que eu gostaria, mas confio que foi o melhor pra ela.
Ainda choro, quando lembro dela, não consegui muito ânimo pra fazer em casa a festa do Henrique (afinal todas as festas que fiz tive sempre a parceria dela e sentar pra fazer as coisas me traz muito forte a lembrança dela e a sua ausência).
Essa era a Fabi, minha amiga que Deus me deu o privilégio de conhecer, amar e que deixou pra sempre sua marca na minha vida.
O sentimento de hoje é muita saudade, saudade doída.....
Vem logo Senhor , vem logo!

Um pouquinho de tudo que me lembra você....








quinta-feira, 24 de julho de 2014

Relato de parto 3 - Primeiros sinais e ida para o hospital

Acordei às 3h da manhã.  Tinha dormido no sofá ( no final da gestação sempre dormia a primeira parte da noite no sofá por causa da azia que voltou a me atormentar). Estava com uma cólica chatinha e decidi ir pra cama tentar dormir e ver se passava,  nada.  Resolvi tomar um banho quente, se a cólica passasse era só alarme falso. Depois de alguns minutos de banho a cólica se manteve, o sono foi embora e decidi voltar para o sofá e assistir televisão. Senti então uma cólica mais forte, um incômodo que logo passou. Depois de 20 minutos senti novamente,  mais 20 minutos e outra. Eram 4:30 da manhã e decidi chamar o marido. Tadinho acordou meio assustado e perdido, conversamos e decidimos ligar pra doula.
A Thais me atendeu, contei o que estava sentindo e ela me orientou a tentar dormir entre cada contração, descansar pra poupar forças, qualquer mudança ligar de novo. 
Marido emocionado e assustado falou: Vai ser hoje então que vamos conhecer o Henrique? Respondi ansiosa, um pouco assustada e feliz: acho que sim.
Decidiu levantar, tomar banho e terminar de colocar na mala o que faltava ( já estava com as malas prontas , mas tinha feito um check list de coisas que precisavam ainda separar e levar pra maternidade).
Enquanto ele tomava banho deitei e não consegui dormir. Baixei um aplicativo para acompanhar duração e tempo entre cada contração. Quando marido saiu do banho estava com contrações de 8 em 8 minutos com quase um minuto de duração e elas estavam cada vez mais doloridas.
A meu pedido marido ligou pra Doula. Ela resolveu vir me encontrar em casa e me orientou a tomar outro banho.  Nesse momento tinha contrações de 5 em 5 minutos.  No banho a dor ficou mais forte e o espaçamento ente contrações diminuiu para 3 minutos.
Pedi pra ele ligar novamente pra Doula.  Eram 6 horas e eu estava com bastante dor, contrações ritmadas. Era hora do rush em São Paulo, até ela chegar na minha casa e depois seguirmos pra maternidade levaria muito tempo.  Eu estava assustada com a rapidez na progressão do trabalho de parto e queria ir logo para o hospital. Combinamos então de nos encontrar lá.  Fui vestir uma roupa e tentar ajudar o marido a terminar a mala. Mas por causa da dor estava bem incomodada. Confesso que saí sem maquiagem,  de cabelo molhado mas naquele momento isso não tinha a menor importância.  Tinha lido muitos relatos de parto e muito sobre cada fase do parto e só conseguia pensar que tava rápido demais, que não tive tempo pra ir me acostumando com a dor de cada contração.
Nesse meio tempo marido terminando de organizar as coisas vinha me perguntar algo e ouvia sempre um, não muito amistoso, faz o que achar melhor.
Tentei me concentrar no meu corpo, vocalizar e lembrar que tudo o que estava sentindo dizia que Henrique ia chegar logo.
Saímos de casa as 6:30 da manhã de uma terça-feira.  Moro na zona sul e nesse horário ir até o hospital significa enfrentar muito trânsito. (Aqui deixo uma dica: Quando estava com 38 semanas tiramos um domingo para ir ao hospital fazendo a rota que usaríamos caso precisássemos ir ao hospital no horário do rush,  lá andamos pela região ao redor do hospital verificando preços e localização de diversos estacionamentos e escolhemos qual usaríamos. Tínhamos o plano de solicitar a uma viatura policial escolta caso houvesse necessidade.  Isso é muito importante pois se isso não tivesse sido pensado antes teria gerado mais um estresse num momento em que estamos muito ansiosos e concentrados em outras coisas).
Logo ao sair de casa a primeira importante avenida estava parada inclusive o corredor de ônibus.  Pegamos nossa primeira rota alternativa. Marido com o pisca ligado ia indo na contra mão,  eu concentrada nas contrações,   sem conseguir acreditar que algumas pessoas dificultavam nossa passagem. Um homem em um carro fechou nosso carro impedindo que continuássemos pela contra mão,  nesse momento eu que estava no meio de uma contração,  baixei o vidro e gritei: Eu estou em trabalho de parto será que dá pra o senhor sair da nossa frente!!! O homem me olhou assustado (marido tadinho não reconheceu a esposa, certeza que queria rir, mas deve ter achado mais seguro se conter), e deixou nosso carro passar. Continuamos na contra mão até retornarmos pra Avenida.  Demos de cara com um agente da CET marido parou explicou o caso e ele disse que podíamos seguir pelo corredor, que não nos multaria, mais adiante outro agente nos viu, percebeu o que estava acontecendo e nos mandou atravessar a ponte pela faixa reversível.
Nova avenida seguimos pelo corredor e encontramos uma viatura da polícia militar em trânsito.  Encostamos ao lado deles e solicitamos escolta para o hospital,  eles pareceram não entender ou não estar muito dispostos a nos ajudar, pedi então ao marido que deixasse pra lá e continuamos.  Mas aí a viatura nos seguiu, perguntaram pra qual hospital íamos, ligaram a sirene e fomos seguindo.  Daí em diante foi tranquilo,  os carros iam abrindo passagem, paramos importantes Avenidas da zona sul de São Paulo só pra gente passar. Marido depois falou que achou tudo muito legal, tava se achando. Eu só pensava que graças a Deus eu ia chegar logo ao hospital e ficaria mais confortável. Chegamos ao hospital pouco depois das 7h da manhã (tempo recorde até em horário sem trânsito).
O carro de polícia parou na nossa frente e enquanto um dos policiais anotava os dados do meu marido o outro veio me dar o braço para entrar na maternidade.  Isso também ajudou pois quando o rapaz da recepção me viu entrar apoiada pelo policial me mandou direto pra admissão e o policial mesmo deixou dentro do consultório (eu vi mulheres em trabalho de parto serem obrigadas a preencher ficha de internação,  respondendo perguntas entre cada contração, ninguém merece!).
Como chegamos muito rápido ninguém da equipe médica havia chegado. Na admissão me perguntaram várias coisas sobre a progressão do meu trabalho de parto (vale ressaltar que até então não havia percebido perda de líquido amniótico em nenhum momento por isso acreditava que minha bolsa ainda não tivesse rompido), quem era meu médico e fizeram meu primeiro exame de toque. Estava com 3,5 cm de dilatação e bolsa rota. Ela voltou a perguntar sobre perda de líquido e ressaltei que não percebi em nenhum momento.  Os batimentos cardíacos do Henrique estavam bons. Perguntei o que era bolsa rota e me disseram que minha bolsa já havia rompido.  Ligaram para meu médico e começaram a me preparar para subir para o pré parto.  Nesse momento a auxiliar de enfermagem pergunta pra enfermeira: Tricotomia? Eu já estava pronta pra não permitir essa intervenção, mas a enfermeira logo respondeu: não ela é paciente do Dr Alberto Guimarães, é parto humanizado, não precisa. Nesse tempo todo fiquei sozinha porque marido foi levar o carro pro estacionamento e ninguém da equipe médica tinha chegado,  afinal só eu tive escolta policial e  fui atendida super rápido acho que foram 15 ou 20 minutos pra avaliar e subir pra o pré parto.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Relato de parto 2: A Gestação e a Escolha da Equipe

Como já estava ciente de que a equipe certa era fundamental para garantir um parto normal humanizado, mesmo antes de engravidar, já estava a procura da equipe que me acompanharia.  Uma condição fundamental pra mim, para a escolha do médico é de que ele não fizesse episiotomia como procedimento padrão.  Havia pesquisado muito nomes de médicos e comecei a ligar, mas os valores com os quais me deparei me assustaram e tornavam a possibilidade de ser atendida por uma equipe assim distante.  Um parto domiciliar ou em casa de parto estava fora de cogitação, porque eu precisava do apoio do meu marido e até aquele momento, era difícil pra ele entender até a necessidade de uma equipe comprometida com o parto normal humanizado, que dirá apoiar um parto domiciliar.  Para ele só o hospital era seguro e o médico não era assim tão importante. 
Foi então que descobri em uma lista o nome do Dr Alberto Guimarães ,  não estava entre os famosos,  mas li alguns artigos dele defendendo  a episiotomia como procedimento desnecessário na grande maioria dos casos, encontrei o site dele com(Parto sem Medo) relatos de parto e artigos que falavam exatamente aquilo que eu acreditava sobre parto. Muito importante também foi saber da possibilidade de fazer todo o pré natal pelo meu plano de saúde,  o que já amenizaria muito os gastos, faltava saber o valor do parto.
 Na primeira consulta marido foi contrariado, porque era Muuuuuuuuito longe, o médico atrasou porque tinha feito um parto de manhã atrasando todo o consultório (com médico que faz parto normal é assim mesmo, às vezes vc tá saindo pra consulta e ela é cancelada porque ele foi atender um parto, outras você espera um tempão porque ele atrasou por causa de um parto, porque os nenês nascem quando estão prontos,e não na hora mais conveniente para o médico e pacientes), fiquei preocupada porque marido tava cada vez mais incomodado.  Então entramos no consultório dele, uma música gostosa de fundo, um sorriso acolhedor,voz tranquila,  foi só conversar com Dr Alberto que o gelo começou a quebrar, ele nos explicou seu trabalho, falou do seu percurso de médico cesarista até um médico humanizado, tudo sem pressa, tirando todas as nossas dúvidas, conversamos sobre valores e finalmente encontrei um valor possível com planejamento. E ali na primeira consulta ele fez um ultrassom e nos deu a grande notícia,  tinha um embrião e ele tinha batimentos cardíacos.  Saímos felizes e o marido me acompanhou em todas as consultas do pré -natal e puerpério.
Em alguns dias no consultório acontecia a sala de espera informada com conversas com a doula, obstetriz ou nutricionista. Marcava minhas consultas sempre para esses dias.
Meu pré natal foi tranquilo, sem exames de toque, poucas ultrassonografias, sem exames desnecessários,  consultas tranquilas, informativas e sem pressa. Ainda no começo me lembro de ter feito uma sabatina com o Dr Alberto, queria ter certeza de que não seria enrolada, me falou duas condições em que ele indicaria cesária e que se fosse necessário, esperaríamos entrar em trabalho de parto,  sem agendamento.  Então ele me disse algo que me fez ter certeza de que seria ele meu médico: Sharline você não precisa se preocupar em brigar por um parto normal, porque eu serei o primeiro que brigarei pelo seu parto normal. Ali me senti segura e me entreguei. Não pude participar das reuniões mensais com a equipe e não fiz os cursos,  por isso acabei conhecendo a equipe bem no final da gestação e isso eu faria diferente. Com 34 semanas conheci a Doula que me deu várias orientações e então comecei a fazer massagem perineal pra me preparar para o parto, não pude fazer a preparação com epi-no, mas acho que quem puder se programar vale a pena. Fiz pilates por alguns meses e também super recomendo.
Quanto ao enxoval muitas coisas não saíram como o planejado, fiz com o marido a viagem para comprar fora o enxoval e foi uma delicia. Em contrapartida iniciamos uma reforma na casa pra qual nos mudaríamos, que não ficou pronta,  assim tivemos que continuar no nosso apartamento, que ficou apertado. Não fiz decoração no quarto e os móveis do Henrique chegaram uma semana depois do parto e até hoje,  mesmo na nova casa o quarto dele não tem a decoração planejada. Isso tudo foi bom pra eu perceber que meu filho não precisava mesmo de muita coisa.
A minha gestação foi muito tranquila, tive enjôo no começo não passava mal, mas me sentia enjoada por todo o dia, foi controlável era só não ficar sem comer e se me sentisse muito mal, um pão de queijo com suco de laranja sempre resolvia. Cuidei muito da minha alimentação, cortei chocolate, cortei muito o açúcar,  inclui mais frutas, integrais e diminui as minhas porções porque estava acima do peso. Ganhei só 4.8kg durante toda a gestação, me senti disposta até o final, não fiquei super inchada. Só tive que lidar com uma azia muito forte, que só foi possível controlar com medicação. Procurei ficar tranquila,  apesar de todas as tristezas que vivi neste ano, pois perdi pessoas muito queridas, a última delas 4 dias antes do parto. Mas acho que tudo que vivi valeu pra o Henrique já ir vivenciando emoções tão comuns à vida.
É preciso também ressaltar a transformação do marido, pra ele parto domiciliar era loucura, perigoso e parto normal era legal quando dava certo e essa historia de humanizado era bobagem e era caro muito caro. Sempre falava que não queria assistir ao parto e cortar o cordão jamais credo. Depois que passamos na primeira consulta ele gostou do médico, então informou-se sobre parto humanizado, comprou a idéia e me apoiou incondicionalmente, até ficou por horas comigo fazendo as lembrancinhas do Henrique, um companheirão. Com 36 semanas assistimos  o filme "O Renascimento do Parto" e foi um divisor de águas,  ali ele se entregou, chegamos a cogitar um domiciliar, mas achamos melhor seguir o plano original que era o que nos fazia sentir mais seguros. 
Com 39 semanas e 3 dias,  passei em consulta, foi feito o único exame de toque do pré natal,  estava com 1cm de dilatação, Henrique na posição,  era só esperar e voltar na semana seguinte. Era lua cheia e no dia seguinte meu tampão começou a sair, falei com a obstetriz que me explicou que era o corpo se preparando. Continuei tranquila, durante a semana sentia a barriga endurecer às vezes, mas nada de dor. No sábado acordei com uma cólica forte (39 semanas e 6 dias), fiquei deitada quietinha junto com o marido e a cólica passou, acho que o corpo entendeu que aquele não era um bom dia. Sentia contrações indolores, barriga dura, muitas vezes por dia. Fui no meu curso de dança circular na segunda-feira (40 semanas e 1 dia), mas não dancei todas as músicas porque me sentia cansada e tava com medo de entrar em trabalho de parto ali. Saí antes pra não pegar trânsito. Eu ainda estava dirigindo sem dificuldades, mas ficava com medo de entrar em trabalho de parto sozinha. Naquele dia marido disse que agora ele ia ser meu motorista, que era melhor eu não dirigir mais, ele me levaria para o trabalho (eu trabalhei até o último dia porque queria usar toda a licença com o Henrique) e depois buscava ou eu voltava de carona, mas nada de dirigir. Jantamos uma pizza e fomos dormir............


Relato de Parto 1 - Meu Caminho até um Parto Humanizado

Desde que o Henrique nasceu tenho ensaiado escrever esse relato, mas com bebe e mudança a vida ficou corrida. Mas o relato tava aqui na cabeça só faltava ser escrito e desde comecei a pensar em como escrever decidi que ele tinha que começar muito antes do dia do parto, pois muitas coisas que aconteceram antes foram fundamentais para que meu parto fosse exatamente como foi.
Há pouco mais de 5 anos atrás minha cunhada engravidou e foi a primeira vez que acompanhei uma gestação e suas questões mais de perto. Curti muito a gestação dela e fui a diversas consultas do pre natal com ela. Na época a frase "Vc quer normal? Faço com certeza se tudo correr bem com a sua gestação" era a coisa mais normal do mundo pra mim. Sempre acreditei que parto normal era dificil que eu teria que fazer muito exercicio, que nem todas as mulheres eram capazes e que, talvez como minha mãe, eu sequer entrasse em trabalho de parto. Minha cunhada queria normal. Ela morava em outro estado, veio ter o bebe perto da mãe e com o obstetra fofo e competente que tinha feito os partos normais da mãe dela.
No fim da gestação ele quis marcar a cesárea para que tivéssemos certeza de que meu cunhado assistiria ao parto. Minha cunhada não quis, ela queria o normal e queria entrar em trabalho de parto para garantir que meu sobrinho tava pronto pra nascer. Ela entrou em trabalho de parto num sábado, chegamos ao hospital à noite, meu cunhado estava há umas três horas de viagem, minha cunhada estava no inicio do trabalho de parto. O obstetra fez um exame de toque, não disse quanto de dilatação e disse achar ser mais seguro uma cesária, minha cunhada pequena, o bebe era muito grande.
Acompanhei a cesária dela, a bolsa rompeu enquanto ela era preparada para a cirurgia. Foi amarrada com os braços esticados em cruz, um pano não permitia que nada fosse visto. Meu sobrinho nasceu e foi levado pra uma sala ao lado, ele chorava pouco e era aspirado e avaliado e minha cunhada foi ficando ansiosa, preocupada me perguntando o tempo todo se ele estava bem. Depois de alguns minutos trouxeram meu sobrinho todo enrolado, mostraram de longe pra minha cunhada e levaram embora. Ela desceu pro quarto e ele foi levado pra mamar, a enfermeira sem o menor tato atrapalhando o primeiro encontro dos dois reclamando do fato de minha cunhada não ter bico. Meu cunhado chegou umas 2h depois que meu sobrinho nasceu. O médico sequer esperou ele.
Essa situação me fez reforçar em mim o quanto eu queria um parto normal. Quando engravidei dois anos depois iniciei meu pré natal com a certeza de que teria um parto normal. Mas ainda tinha poucas informações e talvez se aquela gestação não tivesse sido anembrionada eu não teria vivido o parto da forma como eu realmente queria. Naquela época meu foco era o enxoval, viajar e fazê-lo fora do pais e durante minhas pesquisas entrei em contato com a blogosfera materna pela primeira vez. Foi ali que encontrei apoio depois da minha curetagem e foi então que comecei a ler sobre parto humanizado, procedimentos desnecessários com o bebe, parto em casa, empoderamento, protagonismo. Depois disso tive mais um aborto e demorei ainda 2 anos e meio para engravidar do Henrique. Durante esse tempo me informei li muito sobre o assunto, meus horizontes se alargaram e eu me fortaleci e decidi que eu não queria apenas um parto normal, eu queria que ele fosse humanizado.
Nesse meio tempo minha cunhada engravidou e guerreira lutou por seu VBAC, informou-se, empoderou-se, enfrentou o médico e peitou um parto normal num hospital despreparado para acolhê-la naquele momento,sem nenhum cuidado para o alívio da dor, com o apoio apenas do meu cunhado. Quando o médico chegou minha sobrinha estava nascendo, foram para o centro cirúrgico as pressas. Mas nunca vou esquecer a ligação emocionada dela para mim pouco tempo depois dizendo: "Sharli minha filha nasceu as 7:30 de parto normal!" Chorei de felicidade porque sabia o quanto aquilo era importante pra ela, o quanto lutou sozinha por isso. Obrigada pelo exemplo cunhada.
Foi tanto amor, emoção e ocitocina, que foi na semana que minha sobrinha nasceu que, depois de 2 anos e meio de tentativas, finalmente engravidei!