O mês de outubro é o mês da conscientização sobre a perda gestacional. Quero aproveitar que estou parada no Aeroporto em uma escala de uma viagem especial, para escrever um texto que venho adiando há muito tempo. Preciso falar sobre as minhas perdas.
Essa viagem era especial, porque foi planejada entre tantos outros motivos (passar uns dias sozinha, um tempo pra mim, fazendo o que gosto, dormir, comer, tomar longos banhos, sem interrupções, sem rotinas...) principalmente para completar nosso enxoval.
SIM tínhamos um TERCEIRINHO no forno, eu estaria com vinte e poucas semanas de gestação. Estavamos um pouco assustados, mas MUITO felizes, nossa família estava completa. Fizemos muitos planos: com quem o bebê vai ficar, as crianças vão para a escola, cabem 3 cadeirinhas no carro......
Então há pouco mais de 2 meses, eu estava com nove semanas e fui fazer a primeira ultra. O resultado foi muito estranho (começa aí a dificuldade que as pessoas tem em lidar com esse assunto, depois eu comento), não ouvi os batimentos cardíacos, apesar do laudo do exame atestar que ele existiam. Sem respostas e muito angustiada fui ao PS e no dia seguinte tive confirmado o diagnóstico. Meu embriãozinho, nosso terceirinho morreu. Chorei muito naquele dia, do mesmo jeito e na mesma intensidade que choro neste momento enquanto escrevo este texto. Fui internada no sábado para fazer uma curetagem. Um final de semana dolorido, seguido de dias de muita tristeza. Se estou bem? Sim. Mas meu coração ainda dói e meus olhos se enchem de lágrimas, cada vez que penso ou falo sobre o assunto.
Essa não foi nossa primeira perda, essa foi a minha quinta gestação, minha segunda curetagem. A perda gestacional é mais comum do que se imagina e familiares, amigos, o pai e a própria mãe não estão preparados para lidar com isso.
Mas apesar de ter sido minha terceira perda ela dói como a primeira. Mesmo sendo uma gestação de 9 semanas, de um terceirinho sem aviso. Perdi meu bebê, meu filho já sonhado, já encaixado na minha família, já amado demais por nós.
Ouve-se muita coisa nessa situação, sei que as pessoas não fazem por mal, mas ter que lidar com a nossa dor e ainda a incapacidade do outro frente a essa situação é muito cansativo.
Da primeira vez, já tínhamos espalhado a notícia aos quatro ventos e era muito difícil ter que contar, e contar e contar de novo o que tinha acontecido cada vez que alguém ficava sabendo. Às vezes me sentia na obrigação de consolar a pessoa que, estava super sem jeito de ter vindo perguntar do bebê e descobriu a perda. Nas minhas outras gestações esperamos pra contar. E devo assumir que a minha demora em escolher o nome dos meus filhos está muito ligada ao medo, que sempre esteve presente de perder novamente. Esse medo sempre me acompanhou, não consegui curtir minhas gestações como poderia, porque o medo me impediu.
Desta vez decidi curtir diferente das outras vezes, me entregar, acreditar, baixar a guarda. E doeu demais, dói e sei que mesmo que passem anos vai continuar doendo.
Digo isso porque esse ano descobri que não importa quanto tempo passe eu nunca vou deixar de sentir. Quando perdi meu primeiro bebê, uma prima engravidou na mesma época, ver a bebê nos braços dela, trazia sempre a lembrança do bebê que eu não tinha. Anos depois, 2 filhos, em uma programação especial da minha família, aquela bebê, agora uma menininha, faz uma homenagem para a bisavó e sou invadida por um sentimento dolorido de saudade do que era pra eu viver, saudade daquele bebezinho que não tive o prazer de segurar.
Tudo isso pra dizer que a perda de um bebê com poucas semanas de gestação deve ser valorizada igualmente a uma perda gestacional tardia ou de um filho já nascido. Não acredito que se possa comparar a dor que se sente em nenhum desses casos, porque acredito que isso é muito pessoal. Só posso dizer: acredite ela é imensa, intensa, avassaladora. E vem acompanhada do medo de não ser capaz de gerar e gestar um bebê, de perder novamente, da necessidade de buscar respostas para perguntas (e estas muitas vezes não existem), entre tantos outros sentimentos que muitas vezes nem somos capazes de reconhecer.
Por isso se você é profissional da saúde e durante um exame percebe que há algum problema com um embrião, seja profissional, acolha a mãe, faça um diagnóstico ou pelo menos oriente ela a procurar o seu médico. Mas não a mande embora pra casa com um resultado de ultrassom duvidoso, dizendo que o embrião tem batimentos cardíacos, e o desespero de saber que tem algum problema com o seu bebê.
Se você é amigo ou da família lide com esse caso como um caso de luto, se houver um velório participe, se não, ofereça carinho, apoio e acolhimento de acordo com a necessidade desse casal. Evite falas como: "ele devia ter algum problema, foi melhor assim", ou "logo vocês encomendam outro" ou " agora as coisas que eu comprei, vou ter que dar pra outro bebê ". Apenas ofereça carinho, valide a dor esteja presente.
Quanto ao casal, permita-se vivenciar o luto, chore pelo seu filho, fique triste o tempo necessário, se despeça, procure ajuda em grupo ou individual, viva seu luto em toda a sua intensidade. Com o passar do tempo vamos aprendendo a conviver com ele e continuamos vivendo.
Esse texto é um pouco de tudo que tenho pensado sobre perda gestacional, uma tentativa de conscientização, mas acima de tudo talvez ele seja apenas mais um passo no meu processo de luto.
Espero que de alguma maneira ele possa sensibilizar você sobre o assunto e te ajudar a ter um olhar diferente da próxima vez que se deparar com uma situação como essa.
Se você está vivendo o luto de uma perda gestacional saiba que você não está sozinha.
Depois da minha primeira perda iniciei um processo de terapia (demorei para reconhecer o quanto eu necessitava disto). Um dia no carro, ao voltar de um atendimento, ouvi uma música e uma frase dela fez todo o sentido para o que eu vivia naquele momento:
"Morro de saudade do que era pra viver,
Vivo da viagem de reencontrar você..."
É isso, essa saudade vive comigo e eu com ela, fortalecida na esperança que tenho, de que um dia receberei meus bebês em meus braços, por ocasião da volta de Jesus.
Hora da Sharli
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Sobre (as minhas) Perda Gestacional e a Saudade do Que Não Vivi
segunda-feira, 10 de julho de 2017
De volta
Fiquei muito tempo longe do blog e durante esse período, vivi os anos mais plenos da minha vida. O Henrique nasceu e logo depois de completar um ano e começar a andar, fui agraciada com a surpresa de uma nova gestação. E dessa vez tivemos uma linda menininha, em um parto domiciliar inesquecível.
Vivi as diferenças das duas gestações, as expectativas, o preparo para o novo bebê, as mudanças de paradigma.
Quis compartilhar aqui, mas me faltou organização pra tanto.
Agora quero, na medida do possível, retomar esse espaço.
Decidi começar com o relato do Parto da Gigi e depois ir falando de todos esses assuntos relacionados à gestação, parto, puerpério e criação de filhos, que me fazem brilhar os olhos.
Então vamos lá.
sábado, 20 de setembro de 2014
Relato de parto 4- O parto, o céu estrelado e muito amor
Depois que cheguei ao hospital perdi bastante a noçao de tempo, sentia dor, as contrações estavam muito próximas e marcar o tempo perdeu o sentido. Ao chegar ao centro cirúrgico fui encaminhada para um quarto pequeno, a enfermeira responsável pelo setor naquele momento me mandou deitar colocou o cardiotoco que naquele momento era muito incômodo, minha barriga estava dolorida e ter que ficar deitada com aquela cinta apertada foi bem desagradável. Foi feito novo exame de toque e estava com 5 cm de dilatação. Pedi para ir para o quarto Delivery (é como denominam nessa maternidade o quarto especial para parto normal, ele é grande, tem banheira e só nele a gestante pode passar o pré-parto e o parto no mesmo quarto, esse quarto não pode ser reservado, se você chegar e ele estiver disponível é seu, a maternidade só tem dois desses quartos) ela disse que seria encaminhada pra lá a seguir pois o quarto estava disponível. Pedi água e ela disse que a partir daquele momento não podia ingerir nada. Começou a me fazer algumas perguntas e quando disse que sou alérgica a látex ela disse que eu não poderia usar o delivery pois não era um ambiente livre de látex. Expliquei que minha alergia é de pele e que tudo estava encaminhando bem para o parto normal, que eu não passaria por uma cesariana e que este cuidado demasiado não se justificava. Ela foi categórica dizendo que eu não poderia usar o delivery. Naquele momento estava me sentindo sozinha, com muita dor, sendo mal assistida e incomodada por uma enfermeira sem a menor empatia pela minha situação. Fiquei brava, disse que só estava naquela maternidade pela possibilidade de usar aquele quarto e que se ele estava vazio eu queria ir pra lá. Ela então me fala de forma bastante ríspida: Não precisa ficar nervosa - me dá as costas e sai batendo a porta do quarto.
Isso me tirou do prumo e comecei a gritar vocalizar em alto e bom tom e pedindo a Deus pra marido ou alguém da equipe chegar logo, precisava me sentir acolhida pra poder me concentrar no meu parto.
Marido chegou no centro cirúrgico nessa hora e foi perguntar onde eu estava, disse que ouviu um grito e me localizou rapidinho.... rsrs Quando ele chegou abracei ele e comecei a chorar, queria o quarto, queria a banheira, queria minha Equipe pra cuidar de mim. A doula Thais chegou em seguida e expliquei o que estava acontecendo. Ela foi conversar com a equipe de enfermagem, ligaram para o médico e então liberaram o delivery, mas antes tiraram a bola bobath (que retornou mais tarde) e ligaram o ar condicionado...aff.
Naquele momento eu só queria ir pra banheira, as contratações estavam ritmadas e muito doloridas, fiquei ali em pé abraçada ao marido esperando pra ser levada ao outro quarto. Durante toda a gestação ao ler relatos e ver vídeos de partos, comecei a acalentar o desejo de ter meu parto na água. Acreditava que ficaria mais relaxada e daria conta de um parto natural...
Finalmente liberaram o delivery. A banheira estava cheia e fui direto pra ela. Minha primeira sensação foi de completo relaxamento, o que durou uns 5 minutos, as contratações então voltaram mais fortes e quase sem intervalos, comecei a sentir medo, nada havia me preparado para aquela dor, não conseguia respirar, não achava posição confortável, eu só conseguia pensar em uma coisa: ANESTESIA.
Peguei marido pela mão e implorei pela anestesia. Sentia vontade de empurrar, mas só conseguia pensar que eu não queria que meu bebê nascesse sem anestesia. Percebi que a Thais ligava pra enfermeira perguntando onde ela estava, e tentava ver se o bebê estava coroando, porque devido ao que eu sentia, parecia que eu estava no expulsivo, acho que ali estava indo pra Partolândia, não tenho nenhuma noção de tempo e ordem das coisas, só lembro que doeu. A Obstetriz Ju chegou e tentou me acalmar, eu só pedia anestesia. Ela me relembrou que eu só poderia tomar anestesia quando o médico da equipe chegasse, para garantir que a anestesia seria aplicada corretamente. Me lembro dela me dizer que o médico estava chegando e eu "mal humorada" perguntar: -Chegando onde? Porque ele vai chegar, daí chamar o anestesista, depois até ele vir, eu não aguento!!!
Ela com muito carinho explicou que ele já estava no hospital e que o anestesista já tinha sido chamado e estava a postos. Nesse momento o médico chegou. Me tiraram da banheira, me secaram e fui para a cama. Me posicionaram e o anestesista já estava ali, lembro dele ser carinhoso comigo, quando foi fazer o acesso pediu pra me secarem novamente, porque eu estava muito suada por causa da dor. Pedi uma mão pra segurar e a Ju segurou minha mão, lembro naquela hora de falar pra ela: -Ju não posso apertar sua mão, ela é muito pequena, vou te machucar. Ela sorriu e falou que eu podia apertar a vontade. Pouco depois da anestesia já me sentia outra pessoa. O desespero passou, me centrei de novo. Dr Alberto fez o exame de toque e eu estava com 7cm.
Por conta da anestesia algumas coisas teriam que seguir de outra forma (intervenção gera intervenção), não poderia mais ter um parto na água, e precisaria ser constantemente monitorada com o cardiotoco. As contrações continuavam fortes e ritmadas e o Henrique estava bem. Me deixaram descansar por um tempo, liguei para meus pais e avisei outras pessoas sobre o andamento do parto, rimos, conversamos e então a equipe me colocou pra trabalhar pelo meu parto. Colocaram uma compressa de ervas quente nas costas para aliviar a lombar, a Thais me trouxe água escondido da equipe do hospital e autorizada pelo meu médico. Nossa que água deliciosa, me lembro de durante o trabalho de parto sentir vontade de tomar uma garrafa de água gelada. Sobre a anestesia ela me livrou da dor , mas eu ainda conseguia me movimentar, sentia minhas pernas, percebia as contrações.
Depois de um tempo e várias posições os batimentos cardíacos do bebê começaram a cair, a equipe pediu que eu mudasse de posição, em quatro apoios os batimentos voltavam ao normal. Ficamos assim durante um tempo, mas Henrique não descia. Dr Alberto então conversou conosco explicou que estava na hora de começar a empurrar e que talvez eu precisasse de ajuda, se eles poderiam fazer isso. Autorizei, fiquei durante algum tempo na banqueta de parto, a cada contração a equipe fazia uma manobra para ajudar o Henrique a nascer e eu mexia o corpo ajudando Henrique a descer, depois de um tempo os batimentos voltaram a cair, voltei para quatro apoios e tudo bem novamente.
Permaneci nessa posição me movimentando a cada contração para ajudar o Henrique a nascer. Não sei quanto tempo durou isso , mas lembro do médico e da obstetriz se revezarem na manobra para ajudar o Henrique. Então Dr Alberto propôs me colocar na posição obstétrica e ajudar o Henrique a nascer, aceitei. Nesse momento a dor havia voltado, o anestesista veio e deu mais uma dose. Me ensinaram a fazer a força corretamente e a cada contração eu usava todas as minhas forças pra empurrar. Lembro de sentir muita pressão em baixo ventre, não sei por quanto tempo empurrei, só lembro de estar cansada.
E então a me perguntaram se eu queria ver a cabeça do Henrique, a Thais colocou o espelho, mas não consegui ver. Mais contrações e força e a cabecinha do Henrique saiu, Dr Alberto então disse: - Olha aqui o que estava dificultando as coisas, e puxou a mãozinha do Henrique e em seguida ele saiu inteirinho. A dor acabou. Ele veio direto para o meu colo, meu primeiro sentimento foi alívio, conseguimos, meu pequeno nasceu, e depois a melhor sensação da vida, ter meu pequenino tão sonhado no meu colo, marido muito emocionado ao lado curtindo junto. Depois que o cordão parou de pulsar Dr Alberto perguntou ao marido se ele queria cortar, durante toda a gestação ele dizia que não faria isso, credo, mas ali naquela hora ele disse: - Claro depois de ver a força dela nesse processo todo, eu posso cortar o cordão!
A pediatra da equipe do hospital pediu então pra pegar o Henrique pra avaliar, deixei. Pesou, mediu, embrulhou e ele foi para o colo do Pai. Durante esse tempo saiu a placenta, precisei de dois pontinhos, limparam a cama e me ajeitaram, então Henrique voltou pra mim e foi direto para o peito. A Thais então me trouxe muita água e me auxiliou nesse primeiro contato. A equipe do hospital foi deixando o quarto, e a equipe do Parto Sem Medo também foi saindo aos pouquinhos e ficamos ali, no quarto a meia luz, com teto estrelado, apenas nós três, nos conhecendo, nos curtindo, relembrando momentos daquele dia incrível, nos amando. Agora sim éramos uma família, tínhamos nosso pequeno sonho no nosso colo e sentíamos tanto amor, de um jeito que não sabíamos ser possível. Foi intenso, foi indescritível, foi delicioso.
sábado, 6 de setembro de 2014
Saudade
Enquanto esteve internada ainda pude sentir o poder da oração, da esperança, das amizades, me emocionar com a solidariedade das pessoas e me aproximei mais de Deus por causa dela. Fiquei tão emocionada quando falei com ela por telefone que acabei não dizendo o que gostaria. Infelizmente a resposta de Deus não foi a que eu gostaria, mas confio que foi o melhor pra ela.
Ainda choro, quando lembro dela, não consegui muito ânimo pra fazer em casa a festa do Henrique (afinal todas as festas que fiz tive sempre a parceria dela e sentar pra fazer as coisas me traz muito forte a lembrança dela e a sua ausência).
Essa era a Fabi, minha amiga que Deus me deu o privilégio de conhecer, amar e que deixou pra sempre sua marca na minha vida.
O sentimento de hoje é muita saudade, saudade doída.....
Vem logo Senhor , vem logo!
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Relato de parto 3 - Primeiros sinais e ida para o hospital
Acordei às 3h da manhã. Tinha dormido no sofá ( no final da gestação sempre dormia a primeira parte da noite no sofá por causa da azia que voltou a me atormentar). Estava com uma cólica chatinha e decidi ir pra cama tentar dormir e ver se passava, nada. Resolvi tomar um banho quente, se a cólica passasse era só alarme falso. Depois de alguns minutos de banho a cólica se manteve, o sono foi embora e decidi voltar para o sofá e assistir televisão. Senti então uma cólica mais forte, um incômodo que logo passou. Depois de 20 minutos senti novamente, mais 20 minutos e outra. Eram 4:30 da manhã e decidi chamar o marido. Tadinho acordou meio assustado e perdido, conversamos e decidimos ligar pra doula.
A Thais me atendeu, contei o que estava sentindo e ela me orientou a tentar dormir entre cada contração, descansar pra poupar forças, qualquer mudança ligar de novo.
Marido emocionado e assustado falou: Vai ser hoje então que vamos conhecer o Henrique? Respondi ansiosa, um pouco assustada e feliz: acho que sim.
Decidiu levantar, tomar banho e terminar de colocar na mala o que faltava ( já estava com as malas prontas , mas tinha feito um check list de coisas que precisavam ainda separar e levar pra maternidade).
Enquanto ele tomava banho deitei e não consegui dormir. Baixei um aplicativo para acompanhar duração e tempo entre cada contração. Quando marido saiu do banho estava com contrações de 8 em 8 minutos com quase um minuto de duração e elas estavam cada vez mais doloridas.
A meu pedido marido ligou pra Doula. Ela resolveu vir me encontrar em casa e me orientou a tomar outro banho. Nesse momento tinha contrações de 5 em 5 minutos. No banho a dor ficou mais forte e o espaçamento ente contrações diminuiu para 3 minutos.
Pedi pra ele ligar novamente pra Doula. Eram 6 horas e eu estava com bastante dor, contrações ritmadas. Era hora do rush em São Paulo, até ela chegar na minha casa e depois seguirmos pra maternidade levaria muito tempo. Eu estava assustada com a rapidez na progressão do trabalho de parto e queria ir logo para o hospital. Combinamos então de nos encontrar lá. Fui vestir uma roupa e tentar ajudar o marido a terminar a mala. Mas por causa da dor estava bem incomodada. Confesso que saí sem maquiagem, de cabelo molhado mas naquele momento isso não tinha a menor importância. Tinha lido muitos relatos de parto e muito sobre cada fase do parto e só conseguia pensar que tava rápido demais, que não tive tempo pra ir me acostumando com a dor de cada contração.
Nesse meio tempo marido terminando de organizar as coisas vinha me perguntar algo e ouvia sempre um, não muito amistoso, faz o que achar melhor.
Tentei me concentrar no meu corpo, vocalizar e lembrar que tudo o que estava sentindo dizia que Henrique ia chegar logo.
Saímos de casa as 6:30 da manhã de uma terça-feira. Moro na zona sul e nesse horário ir até o hospital significa enfrentar muito trânsito. (Aqui deixo uma dica: Quando estava com 38 semanas tiramos um domingo para ir ao hospital fazendo a rota que usaríamos caso precisássemos ir ao hospital no horário do rush, lá andamos pela região ao redor do hospital verificando preços e localização de diversos estacionamentos e escolhemos qual usaríamos. Tínhamos o plano de solicitar a uma viatura policial escolta caso houvesse necessidade. Isso é muito importante pois se isso não tivesse sido pensado antes teria gerado mais um estresse num momento em que estamos muito ansiosos e concentrados em outras coisas).
Logo ao sair de casa a primeira importante avenida estava parada inclusive o corredor de ônibus. Pegamos nossa primeira rota alternativa. Marido com o pisca ligado ia indo na contra mão, eu concentrada nas contrações, sem conseguir acreditar que algumas pessoas dificultavam nossa passagem. Um homem em um carro fechou nosso carro impedindo que continuássemos pela contra mão, nesse momento eu que estava no meio de uma contração, baixei o vidro e gritei: Eu estou em trabalho de parto será que dá pra o senhor sair da nossa frente!!! O homem me olhou assustado (marido tadinho não reconheceu a esposa, certeza que queria rir, mas deve ter achado mais seguro se conter), e deixou nosso carro passar. Continuamos na contra mão até retornarmos pra Avenida. Demos de cara com um agente da CET marido parou explicou o caso e ele disse que podíamos seguir pelo corredor, que não nos multaria, mais adiante outro agente nos viu, percebeu o que estava acontecendo e nos mandou atravessar a ponte pela faixa reversível.
Nova avenida seguimos pelo corredor e encontramos uma viatura da polícia militar em trânsito. Encostamos ao lado deles e solicitamos escolta para o hospital, eles pareceram não entender ou não estar muito dispostos a nos ajudar, pedi então ao marido que deixasse pra lá e continuamos. Mas aí a viatura nos seguiu, perguntaram pra qual hospital íamos, ligaram a sirene e fomos seguindo. Daí em diante foi tranquilo, os carros iam abrindo passagem, paramos importantes Avenidas da zona sul de São Paulo só pra gente passar. Marido depois falou que achou tudo muito legal, tava se achando. Eu só pensava que graças a Deus eu ia chegar logo ao hospital e ficaria mais confortável. Chegamos ao hospital pouco depois das 7h da manhã (tempo recorde até em horário sem trânsito).
O carro de polícia parou na nossa frente e enquanto um dos policiais anotava os dados do meu marido o outro veio me dar o braço para entrar na maternidade. Isso também ajudou pois quando o rapaz da recepção me viu entrar apoiada pelo policial me mandou direto pra admissão e o policial mesmo deixou dentro do consultório (eu vi mulheres em trabalho de parto serem obrigadas a preencher ficha de internação, respondendo perguntas entre cada contração, ninguém merece!).
Como chegamos muito rápido ninguém da equipe médica havia chegado. Na admissão me perguntaram várias coisas sobre a progressão do meu trabalho de parto (vale ressaltar que até então não havia percebido perda de líquido amniótico em nenhum momento por isso acreditava que minha bolsa ainda não tivesse rompido), quem era meu médico e fizeram meu primeiro exame de toque. Estava com 3,5 cm de dilatação e bolsa rota. Ela voltou a perguntar sobre perda de líquido e ressaltei que não percebi em nenhum momento. Os batimentos cardíacos do Henrique estavam bons. Perguntei o que era bolsa rota e me disseram que minha bolsa já havia rompido. Ligaram para meu médico e começaram a me preparar para subir para o pré parto. Nesse momento a auxiliar de enfermagem pergunta pra enfermeira: Tricotomia? Eu já estava pronta pra não permitir essa intervenção, mas a enfermeira logo respondeu: não ela é paciente do Dr Alberto Guimarães, é parto humanizado, não precisa. Nesse tempo todo fiquei sozinha porque marido foi levar o carro pro estacionamento e ninguém da equipe médica tinha chegado, afinal só eu tive escolta policial e fui atendida super rápido acho que foram 15 ou 20 minutos pra avaliar e subir pra o pré parto.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Relato de parto 2: A Gestação e a Escolha da Equipe
Em alguns dias no consultório acontecia a sala de espera informada com conversas com a doula, obstetriz ou nutricionista. Marcava minhas consultas sempre para esses dias.
É preciso também ressaltar a transformação do marido, pra ele parto domiciliar era loucura, perigoso e parto normal era legal quando dava certo e essa historia de humanizado era bobagem e era caro muito caro. Sempre falava que não queria assistir ao parto e cortar o cordão jamais credo. Depois que passamos na primeira consulta ele gostou do médico, então informou-se sobre parto humanizado, comprou a idéia e me apoiou incondicionalmente, até ficou por horas comigo fazendo as lembrancinhas do Henrique, um companheirão. Com 36 semanas assistimos o filme "O Renascimento do Parto" e foi um divisor de águas, ali ele se entregou, chegamos a cogitar um domiciliar, mas achamos melhor seguir o plano original que era o que nos fazia sentir mais seguros.
Com 39 semanas e 3 dias, passei em consulta, foi feito o único exame de toque do pré natal, estava com 1cm de dilatação, Henrique na posição, era só esperar e voltar na semana seguinte. Era lua cheia e no dia seguinte meu tampão começou a sair, falei com a obstetriz que me explicou que era o corpo se preparando. Continuei tranquila, durante a semana sentia a barriga endurecer às vezes, mas nada de dor. No sábado acordei com uma cólica forte (39 semanas e 6 dias), fiquei deitada quietinha junto com o marido e a cólica passou, acho que o corpo entendeu que aquele não era um bom dia. Sentia contrações indolores, barriga dura, muitas vezes por dia. Fui no meu curso de dança circular na segunda-feira (40 semanas e 1 dia), mas não dancei todas as músicas porque me sentia cansada e tava com medo de entrar em trabalho de parto ali. Saí antes pra não pegar trânsito. Eu ainda estava dirigindo sem dificuldades, mas ficava com medo de entrar em trabalho de parto sozinha. Naquele dia marido disse que agora ele ia ser meu motorista, que era melhor eu não dirigir mais, ele me levaria para o trabalho (eu trabalhei até o último dia porque queria usar toda a licença com o Henrique) e depois buscava ou eu voltava de carona, mas nada de dirigir. Jantamos uma pizza e fomos dormir............